Em seus 60 anos, o Ars Nova-Coral da UFMG traz uma programação especial com obras consagradas dos compositores
A Semana Santa é o período litúrgico no qual os cristãos lembram as principais passagens dos últimos dias de Jesus Cristo, antes de sua imolação na cruz, em Jerusalém. É também um período dos mais emblemáticos por suas explícitas e implícitas simbologias de cores, sons, números e imagens.
Esta atmosfera sempre provocou a maioria dos compositores ao longo da História da Música e os inspirou a escreverem obras fantásticas com esta temática.
Scarlatti, Bach e o Barroco
O compositor italiano Domenico Scarlatti (1685-1757) e o compositor alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750) foram contemporâneos e viveram no período Barroco, um período de grandes transformações na Música, que vão desde a criação de gêneros importantes, como a ópera, o estabelecimento de formas musicais como o binário e o ternário e o aperfeiçoamento de instrumentos musicais como a flauta, o violino e o piano.
Scarlatti e Bach eram exímios organistas e cravistas e deixaram importantes coleções de obras para estes instrumentos.
Mas as semelhanças param por aí!
Scarlatti nasceu em Nápoles, morou em Roma, Veneza, Lisboa, Sevilha e faleceu em Madri. Bach nasceu em Eisenach, morou em Ohrdrof, Lüneburg, Weimar, Arnstadt, Mülhausen, Köthen e faleceu em Leipzig, mas nunca ultrapassou as fronteiras do Sacro Império Romano-Germânico, a Alemanha de sua época. Eles, provavelmente, sabiam da existência de um e de outro, mas, certamente, nunca se conheceram.
Scarlatti era católico e viveu boa parte da sua maturidade na Península Ibérica, foco da Contra Reforma, movimento de resistência à Reforma Protestante de Martinho Lutero, deflagrada em 1517. Sua música é espelho autêntico desta tendência, quando valoriza os aspectos da Prima Pratica, ou seja, a polifonia pura de Giovanni Pierluiggi da Palestrina (1525-1594).
Já Bach era luterano, seguidor fiel dos ideais de Lutero e viveu dentro de uma Alemanha praticamente decidida pela Reforma. Sua obra traz os principais aspectos de um barroco maduro, que valoriza o texto vernacular e explora a sua interação com a música, além de outros importantes aspectos da retórica barroca.
Música na Semana Santa
Para dar sequência às celebrações dos seus 60 Anos de Fundação, o Ars Nova- Coral da UFMG apresentará durante a Semana Santa, 3 obras magníficas alusivas a este período litúrgico.
O Stabat Mater, é a obra vocal mais conhecida de Domenico Scarlatti. Foi escrita em 1715, em 10 movimentos, para um ensemble de 10 vozes e contínuo. Seu texto foi retirado de várias passagens das Sagradas Escrituras: João, Lucas, Zacarias, Segunda Epístola dos Coríntios e Epístola aos Gálatas.
Jesu, meine Freude BWV227 é o mais longo, o mais complexo e o mais antigo dos 6 motetos reconhecidamente escritos por Johann Sebastian Bach. Foi escrito em 1723, em 11 movimentos, provavelmente para os funerais da esposa do chefe dos correios de Leipzig. Alterna parte de coro a 4 e 5 vozes, com trios e quartetos solistas, sempre acompanhados pelo contínuo. Bach usou como base o coral homônimo de Johann Crüger (1598-1662), com texto de Johann Franck (1618-1677), mas incluiu também passagens da Epístola de São Paulo aos Romanos.
Emoldurado por estas duas obras primas da literatura coral, o moteto Ubi Caritas, do norueguês Ola Gjeilo, nascido em Oslo, em 1978, e residente em San Francisco, na Califórnia, foi escrito para coro a cappella em 2001. É uma obra que fala da caridade, da humildade e da amizade, e possui um forte sentimento de renovação da fé. O texto deste moteto é um hino cantado no final da cerimônia de Lava-Pés, na quinta-feira da Semana Santa.
Ars Nova-Coral da UFMG
No concerto do Ars Nova Coral da UFMG, a regência será do maestro Lincoln Andrade e os solistas serão os próprios cantores do Ars Nova. Thiago André, o pianista acompanhador, executará o contínuo no espetacular órgão positivo vindo da cidade de Garderen, na Holanda, fabricado pela Henk Klop Baroque Instruments.
Você quer nos assistir? Então, anote aí:
- dia 15/04, segunda-feira, às 19:30, na Catedral da Boa Viagem;
- dia 16/04, terça-feira, às 19:30, no Conservatório da UFMG.
Esperamos você lá!