Carlos Aleixo dos Reis, nascido na cidade mineira de Itabira no dia 16 de setembro de 1961, é Professor Associado de Viola de Arco na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e atual Vice-Diretor da Escola de Música. No dia 02 de junho de 2022, recebeu o título de membro honorário da Sociedade Americana de Viola de Arco (American Viola Society – AVS) por suas distintas contribuições no ensino e na execução do instrumento, tanto no Brasil quanto no exterior, e pela fundação da Abrav – Associação Brasileira de Violistas. A homenagem ocorreu durante o 2022 American Viola Society Festival e 47th International Viola Congress, evento sediado na cidade de Columbus, GA, USA.

Aos 9 anos de idade, foi autodidata no violão até sua juventude. Após o falecimento de seu pai, Aleixo mudou-se para Belo Horizonte juntamente com sua mãe e seus três irmãos. Na capital mineira, ele precisou trabalhar dando aulas, chegando a ter 37 alunos de violão. Após o insucesso na aprendizagem de uma composição de Hélio Delmiro, foi aconselhado a estudar música no Palácio das Artes, onde por acaso, entrou no curso de viola de arco, tendo aulas com José Maria Florêncio. Posteriormente, estudou com Marco Antônio Lavigne e Alberto Jaffé nos Cursos de Formação Musical e de Graduação da Escola de Música da UFMG. Em 1995, concluiu o Curso de Mestrado em Performance Musical/Viola na Shenandoah University e, em 2006, obteve o título de Doutor em Artes Musicais/Performance pela mesma universidade.

Professor da Escola de Música da UFMG desde 1996, coordena projetos na Graduação, Pós-Graduação e Extensão, ministra seminários e workshops em vários festivais no Brasil e no exterior. Juntamente com sua esposa, a pianista e professora da Universidade Estadual de Minas Gerais (UEMG) Cenira Schreiber, integra o Duo Viola e Piano e realiza frequentemente recitais com ênfase na música brasileira para viola de arco. Durante o evento norte-americano, Aleixo estará ministrando master classes, palestras e recitais. No concerto dos homenageados da AVS, a ser realizado no dia 03 de junho de 2022, será apresentada a Sonata para Viola e Piano do compositor mineiro Rogério Vieira, dedicada ao Duo Viola e Piano e a obra Seresta N.3, para viola e piano, de Liduíno Pitombeira.

Se o compositor francês Hector Berlioz (1803-1869) descreveu a viola como a “Cinderela da família das cordas”, Professor Aleixo pode ser considerado um dos protagonistas desse enredo. Na versão do escritor francês Charles Perrault, de 1697, a Cinderela era uma jovem criança de uma doçura e de uma bondade sem igual e que era maltratada pela sua madrasta. Esta, não podia suportar as boas qualidades daquela jovem e logo a encarregava das tarefas mais árduas da casa: era ela que limpava a louça e as escadas, que esfregava o quarto da senhora e das senhoritas suas filhas. Até o final do século XVIII, quando houve uma evolução na escrita para viola de arco em obras de compositores como Haydn e Mozart, a viola não era um instrumento que tivesse suas qualidades reconhecidas. Seu papel era basicamente de acompanhamento e/ou preenchimento de vozes.

Na história citada, o filho do rei iria dar um baile e convidou todas as pessoas de estirpe. Como eram importantes na região, as duas senhoritas filhas da madrasta de Cinderela foram convidadas. No dia da festa, ao vê-las partir, Cinderela começou a chorar, pois desejava muito ir. Eis que surge sua madrinha, que era uma fada, e através de poderes mágicos sobre abóboras, camundongos, ratos e lagartos, logo Cinderela se viu diante de uma bela carruagem dourada, belos cavalos, um corpulento cocheiro e lacaios à sua disposição. A fada madrinha ainda havia de transformar as roupas miseráveis que Cinderela usava em outras com tecido de ouro e prata, todo ornamentado de pedras preciosas. Logo em seguida, ela lhe deu um par de sapatinhos de cristal, os mais lindos do mundo. O filho do rei, que acabava de ser informado da chegada de uma grande princesa que ninguém conhecia na região, correu para recebê-la. Ele ofereceu-lhe a mão na descida da carruagem e a levou ao salão onde estavam os convidados. Fez-se então um grande silêncio, a dança cessou e os violinos não tocaram mais, tamanha era a atenção dirigida à contemplação das incomparáveis belezas daquela desconhecida. Não se ouvia senão um ruído confuso: — Ah, como ela é bela! A partir do início do século XX, começou-se a utilizar de forma recorrente uma escrita para viola de arco mais elaborada, que evidenciava as qualidades sonoras da viola de arco, que a destacava como instrumento solista e que demandava mais proficiência técnica dos instrumentistas. Nesse contexto, surgiram os primeiros “príncipes” expoentes do instrumento, como Lionel Tertis (1876-1975), Paul Hindemith (1895-1963) e William Primrose (1904-1982). No Brasil, esse fenômeno foi percebido a partir da segunda metade do século XX e “príncipes” violistas como Bela Mori (1912-2006), Perez Dworecki (1920-2011) e George Kiszely (1930-2010) colocaram a viola em papel de destaque entre os instrumentos solistas. Vale destacar também que os compositores têm importância fundamental no processo de desenvolvimento da história do instrumento, porque sem suas obras não haveríamos de reconhecer a beleza dele.

No final da história de Perrault, após toda a saga do príncipe para encontrar o pé que coubesse perfeitamente um dos sapatinhos de cristal que Cinderela havia perdido na sua fuga do baile (porque sua madrinha lhe recomendou, acima de tudo, não passar da meia-noite, senão sua carruagem voltaria a ser uma abóbora, os cavalos seriam novamente camundongos, os lacaios, lagartos e suas vestes voltariam a ter a aparência original), Cinderela e o príncipe se casaram e viveram felizes. Após a ascensão dos primeiros “príncipes” da viola, gerações de virtuoses e solistas têm se destacado ao longo dos séculos XX e XXI, tanto no Brasil como no exterior. E Professor Aleixo, comprovadamente, tem lugar de destaque na história da viola de arco, pois dá a ela o seu merecido valor. Parabéns e obrigado, Professor Aleixo!

Texto de Jessé Máximo Pereira

Professor Adjunto de Viola de Arco da Universidade Federal de Minas Gerais

Professor Carlos Aleixo dos Reis, da Escola de Música da UFMG, recebe homenagem em importante evento internacional.