Objetivos

O objetivo geral do PPGMUS pode ser expresso nos seguintes termos: “formação, caracterizada por transversalidade, inovação e consciência sociocultural, de pessoal qualificado em termos artísticos e científicos para o exercício de atividades profissionais, de ensino e de pesquisa tanto em música como em áreas afins que tenham clara interface com música”. Os conceitos principais aqui são transversalidade, inovação e consciência sociocultural. O detalhamento de cada um deles, na sequência, servirá também para revelar os objetivos específicos do nosso Programa.

A transversalidade se refere à compreensão crescente de que certos temas e objetos recorrentes na pesquisa em música não devem ser circunscritos a uma única abordagem teórica ou metodológica, mas, pelo contrário, convidam a uma reflexão plural capaz de mobilizar a área como um todo (e eventualmente áreas afins), transcendendo os limites disciplinares. Podemos exemplificar isso com a noção de performance que, embora dê nome a uma das linhas de pesquisa do Programa, revela-se como pertinente também a todas as demais, gerando reflexões específicas que se somam e interpenetram, enriquecendo sobremaneira o conceito e a experiência do próprio fenômeno. Exemplificando, a performance é abordada pelos estudos etnomusicológicos, na linha de Música e Cultura, numa ótica que pode visar os saberes inscritos nos corpos, nos gestos e em sua expressão em manifestações de culturas tradicionais. Ou seja, numa perspectiva muito distinta de um propósito mais ligado à eficiência técnica ou à competência intuitiva para a execução pública, em palco, de determinados repertórios, tal como é comumente estudada na própria linha de Performance Musical. Por outro lado, no PPGMUS a performance é um objeto privilegiado da linha de Sonologia, com várias pesquisas dedicadas à gestualidade musical e à musicalidade do gesto, abrindo perspectivas promissoras para a compreensão do tema e mesmo para a pedagogia da música e dos instrumentos musicais. Também na Educação Musical a noção de performance é fundamental, entendendo-se que se trata de experiência imprescindível no ambiente de musicalização e do aprendizado formal e informal da música, mas que, nesse contexto, pode e deve ter alguns paradigmas estritamente técnicos repensados, como os que tendem a estigmatizar o “erro”; sem falar na própria concepção de Pedagogia da Performance que embasa alguns estudos da área. E na linha de Processos Analíticos e Criativos a performance é igualmente tematizada, sobretudo no contexto de criações contemporâneas que podem exigir diferentes posturas e capacidades dos músicos, colocando-os frente a desafios e reflexões inéditas. Todas essas perspectivas, no âmbito do que se considera aqui transversalidade, devem e precisam dialogar em benefício das várias pesquisas realizadas, requerendo do Programa estruturas, oportunidades e ambientes para o confronto de ideias e projetos.

Quanto à inovação, pode-se dizer que por meio dessa noção o Programa reencontra a própria vocação de Belo Horizonte, capital moderna de um estado de fortes e arraigadas tradições. O conceito implica não só enquadrar em perspectiva de futuro os problemas presentes ou em utilizar ferramentas tecnológicas diversas para extrair e processar informação musical, mas também a busca de metodologias contemporâneas para lidar com o imenso patrimônio histórico-cultural regional. Sendo assim, a inovação se verifica em vários aspectos: tecnológicos, socioculturais, artísticos. Para além de casos mais imediatos de abordagem do patrimônio que ocorrem nas linhas Música e Cultura ou Educação Musical – aliando a pedagogia a perspectivas musicológicas e etnomusicológicas –  valha como exemplo a linha Performance Musical, cujas pesquisas inúmeras vezes abordam o papel do intérprete/performer no mundo contemporâneo, não só diante de repertórios novos ou “periféricos”, mas também em meio a rituais que moldam e reconfiguram o significado social da música. Emergem dessas pesquisas um olhar renovado sobre a função do músico e uma postura inovadora para a atuação profissional, compondo exatamente o perfil desejado para o egresso do Programa.

Por fim, a consciência sociocultural nomeia a atitude que entende as práticas musicais como agentes na construção de relações e significados sociais. Tal como a transversalidade e a inovação, essa consciência perpassa os trabalhos de todas as linhas de pesquisa: desde  a) o entendimento da obra musical como um produto cultural que condensa uma rede de significações a ser constantemente interpretada e refeita (Performance, Processos Analíticos e Criativos, Música e Cultura) à b) presença e necessidade da música na formação pessoal e nos processos identitários individuais e coletivos (Educação Musical) e também a c) o estudo dos efeitos e das possibilidades de uso do som em termos psicoacústicos e terapêuticos (Sonologia).