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Harmonia I

aula 05 - estruturas/conceitos fundamentais do tonalismo

José Henrique Padovani

tópicos: [aula 5]

1. introdução
2. estruturas escalares: escala, nota e grau
3. consonância/dissonância
4. ciclo das quintas, campo harmônico, tonalidades vizinhas

1. introdução

aula 04 - vimos como alguns conceitos, metáforas e abstrações sobre música de uma cultura permitem aos seus “membros” criar discursos (e comunicar) aspectos diversos dessas músicas

em especial, dado o tema da disciplina, como esses conceitos, metáforas e abstrações (que são ao mesmo tempo teóricas, metafóricas, cosmológicas, etc.) explicam a maneira como organizam notas, intervalos e harmonias

Propósito geral dessa aula: ver/recapitular conceitos, metáforas e abstrações fundamentais do conjunto teórico da música europeia ocidental que, a partir da próxima aula, nos servirão a explicar elementos fundamentais da harmonia tonal e de suas representações/cifragens

2. estruturas escalares: escala, nota e grau

Escala: vem da metáfora “escada”, e consiste em uma organização hierárquica de notas musicais.


[exemplo: escala equipentatônica]
2. estruturas escalares: escala, nota e grau [2]

O mais comum, é que essa hierarquização seja “oitavante”
As “notas” são classes de alturas e qualquer nota “dó”, em qualquer oitava, é percebida/entendida, no contexto escalar/harmônico em questão, como uma “versão” específica dessa classe-de-altura.

Em um contexto escalar oitavante, se trocamos a oitava de uma nota, continuamos a perceber seu “grau”
(nas metáforas da teoria musical ocidental, seu “degrau na escada”)


[exemplo: equivalência de oitava e graus]
2. estruturas escalares: escala, nota e grau [3]

Notação dos graus depende daquilo que pretendemos representar
(veja abaixo a notação para notas e para acordes)


[exemplo: notação de graus]

Uma última observação importante: no sistema diatônico ocidental, o próprio nome de uma nota indica o seu grau.

Portanto, se mi# e têm a mesma altura no sistema de afinação igual, seus graus são diferentes
(o que implica dizer que elas também cumprirão funções diferentes dentro de acordes específicos)

3. consonância/dissonância

Consonância e dissonância: categorias que utilizamos para qualificar intervalos.

Essas categorias possuem uma dimensão físico/acústica, por um lado, mas, também, uma dimensão histórica/cultural

Dimensão física/acústica:

dois intervalos são...
dissonantes: se as razões/proporções entre suas frequências forem mais complexas e, com isso, resultarem em batimentos
consonantes: se seus ciclos de vibração forem mais coincidentes, e não resultrarem em batimentos muito perceptíveis

Dimensão histórica/cultural: depende de uma qualificação estética mais complexa, que tem alguma relação aquela física/acúsitca, mas não se resume a ela
[ex: aprendemos a qualificar como consonância o intervalo de 3a maior de 400 cents, cujo tamanho, em termos de proporção, é de 63:50, razão bem mais complexa que aquela de 5:4 da terça obtida pela série harmônica]

3. consonância/dissonância [2]

Anicius Manlius Torquatus Severinus (Boécio)
(Roma, ca. 480 — Pavia, 524 ou 525)
em >De institutione musica:
“A consonância é a mistura de um som alto com um baixo, que chega de maneira doce e uniforme (suauiter uniformiterque) aos ouvidos. A dissonância é percussão de ruído áspero e desarmonioso (aspera atque iniocunda percussio) de dois sons que se misturam (sibimet permixtorum)"
(https://en.wikipedia.org/wiki/Consonance_and_dissonance#Antiquity_and_Middle-Ages)

ver: De institutione musica, de Boécio - Livro 1: tradução e comentários, dissertação de Carolina Parrizzi Castanheira



3. consonância/dissonância [3]

Johannes de Garlândia [ca. 1270–1320]

De musica mensurabili positio

Categorias:
- consonâncias perfeitas: 8a J / uníssono
- consonâncias médias: 4a J / 5a J
- consonâncias imperfeitas: 3a m / 3a M
- dissonâncias imperfeitas: 6a M / 7a m
- dissonâncias médias: 6a m / 2a M
- dissonâncias perfeitas: 2a m / trítono / 7a M






Categorias modernas:

- dissonâncias: 2a m /2a M / 7a m / 7a M / 4a dim. / 5a aum. (e, a partir do baixo: 4a J)
- consonâncias imperfeitas: 3a m / 3a M / 6a m / 6a M
- consonâncias perfeitas: uníssono / 5a J / 8a J

4. ciclo das quintas, campo harmônico, tonalidades vizinhas

Com os sistemas de afinação que se originam no Renascimento tardio, abre-se a possibilidade de transpor escalas por quintas consecutivas, deslocando todas as relações intervalares de um “campo harmônico” para outro

De maneira a manter as relações intervalares, cada deslocamento exige uma alteração de semitom na escala diatônica
[o que, no contexto tonal, significa deslocar a polarização entre tensões criadas por esses graus sensíveis da escala, e as resoluções que distensionam as dissonâncias geradas por eles]

Como cada transposição necessita de apenas uma alteração, dizemos que os “campos harmônicos” (o conjunto de possibilidades de combinação nota a nota) dessas tonalidades são vizinhos (ou que essas tonalidades são vizinhas)

4. ciclo das quintas, campo harmônico, tonalidades vizinhas [2]




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