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Harmonia I

aula 02 [parte 2] - recorte, repertório, livros, abordagem didática

José Henrique Padovani

tópicos: [aula 2.2]

1. “harmonia normativa” X “harmonia baseada em evidências”
2. repertório [recorte/contexto]
3. outros livros/textos
4. representação/cifragem de estruturas harmônicas

1. “harmonia normativa” X “harmonia baseada em evidências”

livros/tratados de Harmonia: muitas vezes usam uma linguagem normativa (ou legislativa!)

...delimitação de diretrizes que dizem o que é permitido e o que é proibido

ainda que possam ter sido retiradas da observação de um repertório específico, essa derivação não é explicada ou colocada em contexto

são apresentadas apenas as regras (chamadas mesmo de “leis”, por alguns autores/livros)

1. “harmonia normativa” X “harmonia baseada em evidências” (2)

Diether de La Motte: O estudo da Harmonia: uma perspectiva histórica [prefácio]

Qual nota de um acorde em primeira inversão deve ser dobrada? Se procurarmos uma resposta em dez livros de harmonia, nós provavelmente encontraremos dez respostas diferentes, que recaem em algum lugar entre as posições extremas de Bumke ("a terça não deve nunca ser dobrada") e Moser ("todos os dobramentos são possíveis"). Enfrentaremos o mesmo problema se nossa questão for sobre intervalos paralelos ocultos...
[MOTTE, Diether de la. [1991] The study of harmony: an historical perspective, p. i]

1. “harmonia normativa” X “harmonia baseada em evidências” (3)

estratégia alternativa:

ter como ponto de partida um repertório específico

averiguar aquilo que ocorre e aquilo que não ocorre, derivando princípios, estratégias, etc.

capítulos 1 e 2 [especialmente a partir da Unidade 2 do curso]

mais do que seguir o livro, no entanto, adotar essa estratégia: harmonia baseada em evidências

2. repertório [recorte/contexto]

tende a ser restrito e limitado...

no caso específico do curso de Harmonia, centra-se, a partir da ementa, na Harmonia Tonal do Período da Prática Comum

recorte temporal: +/- 1600-1900
recorte cultural/geográfico: música de concerto europeia

em Harmonia I, um recorte ainda mais específico...

hinos homofônicos luteranos do barroco tardio e, em particular, aqueles compostos por Johann Sebastian Bach

2. repertório [recorte/contexto] (2)

porque esse recorte?

1. tradição: se tornou a base do estudo da harmonia tonal no conservatório

2. consistência estilística: várias peças que têm um alto grau de coesão estilística
(poucas exceções / alta recorrência de estratégias harmônicas)

3. possibilita estabelecer as bases para compreender estratégias posteriores (clássico-românticas) de tratamento harmônico

4. por serem vocais e seguirem regras específicas de condução de vozes, permitem conectar o estudo do Contraponto (lógica horizontal / por tramas) ao estudo da Harmonia (lógica vertical / por blocos)


2. repertório [recorte/contexto] (3)

para balancear um recorte tão restritivo, vamos tentar...

1. ver outros estilos/gêneros que não aquele do coral bachiano (buscando peças/gêneros que dialoguem com o material e os procedimentos harmônicos que iremos ver ao longo do semestre)

2. incluir reflexões sobre essa delimitação tradicional da disciplina (o que já estamos fazendo)

3. buscar peças, autores/as e gêneros mais plurais e representativos (que servirão de base para o trabalho 2, por exemplo)

3. outros livros/textos

além do livro de De La Motte (que, mais uma vez, servirá menos de livro-texto do que como paradigma)...

Harmony & voice leading, Edward Aldwell e Carl Schachter

Harmony in context, Miguel Roig-Francolí

outros (a depender do contexto)...

...sobretudo, para vermos várias maneiras de representar acordes/harmonias

4. representação/cifragem de estruturas harmônicas

a maneira como representamos algo, modifica nossas possibilidades de entender essa coisa

harmonia: várias maneiras de “cifrar”/compreender acordes:

- cifra “de violão” (ou “de jazz” ou de “música popular”) [séc. XX]

- baixo cifrado [séc XVI/XVII]

- cifragem por graus/números romanos [séc XVIII]

- cifragem/harmonia funcional [séc XIX]

surgiram ainda outras maneiras, no séc XX: teoria dos conjuntos de classes de altura (Pitch-class Theory) e o General Chord Type (GCT)

4. representação/cifragem de estruturas harmônicas (2)

Porque ver várias maneiras de cifrar?

implica em compreender a partir a harmonia e os acordes a partir de diversos ângulos.

Último ponto: uma maneira de representar não apenas implica um ponto de vista, mas também se associa a um propósito:

cifragens/representações/teorias voltadas à prática instrumental/improvisação
cifragens/representações/teorias voltadas à análise
cifragens/representações/teorias voltadas à composição...
etc.