Ars Nova e eu

… e você, e nós, e todos nós!

Foi em 1959 que tudo começou e em abril se formalizou. Hoje eu completo 60 anos, 8 meses e 45 dias de Ars Nova. Explico: são cerca de 32 anos como membro de seu corpo coral, no naipe dos baixos (e entre este tempo alguns anos como coordenador do grupo) e 28 anos, 8 meses e 45 dias  acompanhando sua trajetória, assistindo aos seus concertos, sugerindo, aconselhando, apoiando, ajudando a transpor obstáculos, torcendo por seu sucesso, reunindo, compartilhando êxitos e fracassos, vivendo preocupações, colaborando com as possibilidades futuras, realizando encontros, enfim, vivendo dentro e fora da trajetória do grupo e ainda retornando ao seu corpo coral, junto com ex-companheiros para voltar cantar, com os jovens cantores atuais, nas inesquecíveis comemorações dos 60 anos de atividades.  

A experiência enriquecedora de participar ativamente de atividades artísticas de alto nível só se pode medir pelos benefícios auferidos para toda uma vida.  Imaginem o ganho que conseguimos com o companheirismo, a união, o trabalho, a harmonia, aceitação, a heterogeneidade de um grupo durante milhares de ensaios, reuniões, exercícios, preparação vocal, estudos, aulas e centenas de concertos, viagens, conforto e desconforto, aceitação e amizade, colaboração e respeito mútuos, além do natural cansaço e nervosismo como consequência inevitável. Tudo isto vivemos e sentimos, tendo como resultado a alegria da tarefa realizada e o orgulho de vê-la transpondo os tempos e se firmando no universo musical de seu país. Isto é possível com talento, trabalho e perseverança, reunindo mais de 450 cantores, seis maestros titulares e outros tantos auxiliares, além de maestros convidados e do trabalho administrativo, de organização e disciplina realizado pelos seus próprios integrantes. 

Impossível detalhar os milhares de episódios alegres, dramáticos e quase trágicos que ocorreram nesta trajetória, mas todos nós os sentimos e recordamos. Cantamos em cerca de 150 cidades de 18 países de três continentes. Nosso primeiro regente foi o Maestro Sérgio Magnani  que se empolgou com o entusiasmo de um grupo de jovens e que se prontificou a dirigi-los para espanto geral, quase todos egressos do coral universitário que fora extinto um ano antes. Este encontro impactante deu vida, segurança e nível artístico ao trabalho inicial.  A todo este momento inusitado, seguiu-se outro com a chegada da Europa em 1963/1964 do Maestro Carlos Alberto Pinto Fonseca, que viria a dar forma definitiva aí coral, com seu talento, entusiasmo, conhecimento e competência.

O Ars Nova fez e ainda faz história, a qual já é, desde o princípio, conhecida dos jornais, revistas, TVs, pelas gravações e pela sua participação ativa e constante em concertos, festivais e concursos.  Esta história pode ser sintetizada em alguns aspectos que podem ser contados pelas seguintes palavras: entusiasmo, trabalho, emoção, talento, competência, disciplina, organização, objetivo e apoio.

Uma história de entusiasmo de um grupo de jovens.

Uma história de muito trabalho constante e por vezes cansativo.

Uma história recheada de emoções.

Uma história baseada no talento dos regentes e dos cantores.

Uma história concretizada pela competência.

Uma história de disciplina, sem a qual nada se pode realizar.

Uma história feita com organização mantida por seus membros.

Uma história visando sempre o objetivo de realizar a melhor apresentação de uma obra musical no mais alto nível artístico.

Uma história que contou com o apoio de entidades como a UEE, no seu início e, de lá até hoje, pela UFMG, sem o qual talvez não tivéssemos conseguido este resultado.

E hoje, às vésperas de seus 61 anos de atividades e respeitando e enaltecendo todos aqueles que mantiveram viva e acesa a história e a difusão do canto coral, com seu encantamento e inconfundíveis sons dos mestres, queremos reverenciar os primeiros 45 anos que deram os elementos para a formatação dos pilares que hoje sustentam a obra que se perpetua. Agradecemos a Rafael Grimaldi, a Willlsterman Sottani, a Iara Fricke Matte e, agora, a Lincoln Andrade, manifestando todo o nosso orgulho de Arsnovenses de ontem, de hoje e de sempre. Estamos todos conectados e o fio de ligação é o Ars Nova, em que o momento de cada um está gravado indelevelmente em sua memória física e emotiva.

E, para finalizar, uma frase eu sempre digo: A gente sai do Ars Nova, mas o Ars Nova não sai da gente. 

Márcio José Veloso, baixo

Belo Horizonte, 16 de janeiro de 2020